sábado, 12 de novembro de 2011

Sapatos gastos em lugar nenhum.

Seus sapatos estavam gastos. Gastos de tanto andar. Sua cabeça latejava, as pernas ardiam. Setas apontavam para todas as direções. Estava completamente só naquele labirinto de vazios, porém escutava pontos de sussurros, vindos dos mais remotos lugares. 
Aquilo torna-se insuportável. Seus joelhos cedem. Tampa os ouvidos. E grita. Enche os pulmões de ar congelante e grita. Queria chorar. Mas não conseguia, pois não tinha mais lágrimas. Fica nessa posição por alguns segundos... Ou dias. Não sabia ao certo.
No meio da neblina, então, um ônibus velho chega aos chocalhos. Ele para bem em sua frente. Não havia nenhum motorista, muito menos passageiros. Não tendo nada mais a perder - nem a ganhar, também -, subiu no veículo. Em um baque, o ônibus toma partida e começa a vagar para Lugar Nenhum.
Seu rosto fantasmagórico olha para baixo. Meus sapatos estão gastos, nota. Os tira e os analisa entre os dedos ossudos. O couro estava prestes a arrebentar, o odor da sola era de podridão. Percebe, subitamente, que aqueles calçados eram pequenos demais se comparado ao tamanho de seus pés. Por isso que cada passo que dava doía tanto.
Em um ato que lhe pareceu muito natural, resolveu atirar os sapatos miúdos pela janela do ônibus. Deveria ter sido algo libertador, mas não foi, na realidade. E pouco importava. Tanto faz. "Apenas me leve para Algum Lugar", murmurou para o motorista invisível. E pegou no sono.



Walk in silence
Don't walk away, in silence
See the danger
Always danger
Endless talking
Life rebuilding
Don't walk away

Nenhum comentário:

Postar um comentário