sábado, 5 de novembro de 2011

Nós já temos rugas, pai.

Hoje posso finalmente dizer que eu aprendi a me lidar com você. Não significa que eu te entenda ou que foi tão simples assim. Porque não foi, ainda não é e acredito eu, nunca será. O problema, fora a pouca convivência, é por nós sermos muito parecidos. Pai e filha, viciados na vida profissional, calados, seres mais pensantes do que falantes.
Os tempos em que nós íamos aos parques, ora assustar as pombas, ora girar em brinquedos que te deixavam enjoado, ora ver teatrinhos repetidos da Mônica... Ou quando você cantava para mim e para minha prima no carro, me fazendo soltar gargalhadas doces feito borboletas?  E eu ainda falava, entre risos, "Para, pai!". Hoje eu daria tudo para te rever cantando, daquele jeito tão genuíno.  
Essas imagens, todavia, me parecem tão distante que poderia facilmente dizer que foram lembranças de outra vida. E saber que tempos tão leves quanto aqueles nunca voltarão, faz meu coração doer. Aquela criança de olhos amendoados e bochechas salientes mal sabia o quanto ela e o pai mudariam...
Me custou muito tempo e maturidade para compreender que nós não somos os mesmos. Que nós não nos enquadramos em uma relação de pai e filha qualquer. Que você não pode ser comparado a ninguém.
Me acostumei em vir duas vezes por mês em seu lar, que agora também considero meu; folhear revistas Veja enquanto você me serve salmão. Antes de dormir, você me dá um beijo de boa noite, como se eu ainda fosse a sua garotinha... É o seu jeito estranho de dizer que me ama. Confesso que ainda atendo decepcionada o telefone quando você diz que não vem. Mas tudo bem, porque isso já não me machuca.
Eu aprendi que você é desse jeito. Que nós funcionamos desse jeito. E que dificilmente vamos mudar. E estou bem com isso, porque finalmente aprendi a gostar de nós. Gosto de ter essa segunda casa, em que sei que posso contar, sempre.
Espero conseguir lhe dizer essas palavras um dia.


As my bones grew they did hurt
They hurt really bad
I tried hard to had a father
But instead I had a dad

I just want to you to know that
I don't hate you anymore

2 comentários:

  1. Sempre que você escreve sobre seu pai sinto uma recaída (?),mas acabo sorrindo no final do texto.Não é pena,eu lhe garanto,só meio que te entendo.Ou simplesmente suas palavras mexem com algum lado meu.
    Comparei este texto com outro,o "Tudo o que carrego é seu sobrenome.'',e nossa,como mudou.
    Resolvi comentar só pra lhe dizer que mesmo você ouvindo muitos "eu te amo" em vão de suas fãs e até mesmo de pessoas próximas,não deixe de acreditar nele.Mesmo sendo falso,momentâneo ou não pensado,acredite que alguém em algum dia irá te dizer isso com o coração.Acredite que um dia seu pai te amou,que te ama e que te amará.Assim como seus amigos,familiares e até mesmo fãs.
    Espero que você tenha melhorado desde o "Tudo o que carrego é seu nome.'' e que tenha voltado a acreditar na forma em que seu pai se expressa.
    Obrigada por todos os vídeos,textos,recomendações e me inspirar,de certa forma.Me senti tão interessada por artes modernas que até penso em fazer isso,num futuro distante.Ainda sou muito jovem.
    E é só,continue sendo feliz ou quase feliz do seu jeito.Você é especial,tenha certeza disso.

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    1. Olha, a minha relação com o meu pai SEMPRE vai ser algo delicado. Mas hoje eu meio que parei de projetar meus desejos nas pessoas e passei a (tentar) aceitar que cada um tem seu jeito peculiar de amar, o que me ajudou muito.
      Enfim, obrigada pelas palavras, mesmo. Não sei se é a TPM ou a madrugada que deixa tudo mais sensível, mas você quase me fez chorar haha Beijos e paz, Babs.

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